"Doenças ocupacionais poderiam ser evitadas, mas
empresas preferem o lucro", afirma médica e pesquisadora da Fundacentro,
Maria Maeno, em entrevista à Rádio Brasil Atual. Segundo a médica
sanitarista, os empregadores visam render mais, com menos trabalhadores.
"As doenças ocupacionais existem há anos, e todos sabem as razões de as
pessoas adoecerem. Mas a situação não muda, porque a organização de trabalho
atual das empresas é a melhor para o (interesse do) capital. A preferência é
render mais, com menos trabalhadores, às custas da intensificação do fluxo de
trabalho e diminuição de repouso, ou seja, é menos gente fazendo mais, o que dá
mais lucro."
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A pesquisadora da Fundacentro também aponta que muitas
doenças só agora estão sendo associadas à organização do local de trabalho, já
que muitos setores empresariais tentam omitir as ocorrências. "Nós sabemos
de muitos casos de empresas que nunca registravam doenças ocupacionais. Mas por
meio de uma intervenção do poder público, descobre-se muitos casos de doenças
ocupacionais. Então, as doenças estavam sendo escondidas, e não podemos
esquecer que as empresas possuem médicos dentro delas. Ou seja, muitos deixavam
de fazer os diagnósticos."
A médica ainda alerta as empresas sobre o equívoco desse
procedimento. "O interesse em fazer o diagnóstico deveria ser o máximo,
porque o INSS pode entrar com uma ação regressiva, e solicitar aquilo que
gastou com as doenças ocupacionais. Além disso, as doenças que mais acidentam e
adoecem pagam mais tributos ao Estado. Então, o INSS deveria investigar os
motivos pelos quais algumas doenças ocupacionais não são aceitas pelo
INSS."
Maria conta que o Ministério da Saúde e o Ministério da
Previdência Social reconhecem cerca de duzentas doenças relacionadas às
condições e à organização do trabalho. "São lesões por esforços
repetitivos e transtornos mentais, são doenças que podem atingir qualquer
trabalhador, de qualquer atividade."
Transtornos psicológicos estão crescendo cada vez mais entre
os bancários, por exemplo, relata Maria. "As doenças psicológicas estão em
crescimento, motivadas pela pressão de atingirem metas, usos de recursos
inadequados pelos gestores, o risco da demissão, tudo isso faz com que
adoeçam."
"A maior parte das doenças são aquelas que existem na
população, mas que, em determinadas atividades, têm maior incidências. Por
exemplo, os esforços repetitivos levam à tendinite, que afeta um grande número
de pessoas mas, em determinadas categorias, como bancários e teleoperadores, o
número de adoecidos é maior", explica. *Rede Brasil Atual
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