Violência organizacional
Na abertura do evento, além de saudar os colegas dos outros
estados, o presidente do SindBancários, Everton Gimenis, disse que o aumento do
problema do adoecimento hoje está tornando difícil aos banqueiros ignorar a
questão. "Mas eles argumentam que a situação é diferente em cada banco, cada
caso seria uma caso. Hoje qualquer pesquisa releva que há o adoecimento pela
imposição de metas abusivas. E nós já sabemos que não é uma questão de pessoas
ou deste ou daquele banco – é uma violência organizacional”, afirmou. Gimenis
ressaltou ainda a importância da integração, nos setores de saúde e jurídico,
com as entidades dos outros estados.
A diretora do Sindicato de Porto Alegre Denise Falkenberg
Correia apontou que "no Banrisul, hoje, cerca de 25% dos funcionários tomam
medicação para trabalhar”. "Banqueiros sugam os trabalhadores e deixam só o
bagaço”, completou.
Epidemia
O diretor de Saúde da FETEC-PR, Ademir Vidolin, relatou que
há uma verdadeira epidemia de LER/DORT, e que a Federação vem conseguindo
vitórias através da ação do Ministério Público. "Mas tivemos que lutar pela
criação de santas casas para tratar muitos caos de tuberculose entre bancários
que trabalham na conferência de dinheiro em ambientes fechados”, revelou.
Vidolin destacou a importância desta troca de experiências e do acumulo de
informações: "Quando chegamos à mesa de discussão com o banqueiro, temos mais
argumentos – inclusive científicos – e eles ficam menos poderosos”, lembrou.
Metas abusivas no HSBC
Karla Huning, diretora do departamento jurídico, do
Sindicato de Curitiba e Região (que tem 18.400 bancários, sendo 8.115
sindicalizados) disse que em 2014 foram registradas 1.450 demissões. "Mas 30%
deste número foram demissões a pedido no HSBC, que tem sua sede no Paraná. As pessoas
não aguentam a pressão, as metas abusivas, o assedio moral e outros problemas
que levam ao adoecimento”, garantiu.
Ana Fideli, diretora de Saúde da mesma entidade diz que as
"fichas de homologação” das demissões foram o primeiro material utilizado para
a pesquisa "Métodos de Gestão e Adoecimento dos Trabalhadores: o caso dos
bancários do HSBC em Curitiba”, coordenada por Jane Salvador de Bueno Gizzi, e
hoje uma referência no tema.
Conforme Ana Fideli, a ficha de acolhimento ao bancário que
procura o Sindicato em situação de sofrimento, tem servido para que o médico da
perícia, no INSS, na maioria dos casos determine que o trabalhador fique
afastado para tratamento. Ela também acrescentou que o site do Sindicato de
Curitiba traz um formulário de denúncia de assedio moral, acessível a qualquer
bancário mesmo sem identificação.
Descumprimento das normas
"O tema da saúde cada vez mais não diz respeito apenas à
saúde, mas sim a toda a organização dos locais de trabalho”, garantiu o
coordenador-geral da Federação dos Bancários de SC, Leandro Spezia. Ele disse
que em boa parte dos casos o problema é o descumprimento pelo banco das normas
legais de trabalho. "Fizemos pressão sobre o Ministério Público para que os
bancos passassem a ser fiscalizados, e no fim do ano passado entramos com uma
ação pesada sobre o Itaú e o Santander”, enumerou.
Spezia relatou uma espécie de lavagem cerebral sobre os
bancários. "O banco passa a ideia de que o bancário que produz conforme as
exigências, mesmo abusivas, é um cara legal. Mas se ele se recusar, é um
oponente. Ou então, que o Sindicato é um oponente que impede o progresso do
bancário… É como se fosse uma seita”, analisou o dirigente.
Entre as infrações legais constatadas pelo Sindicato de
Curitiba, estão a burla das 6h diárias de trabalho; a não emissão de CAT; falta
de pausas; mobiliário inadequado; ausência de reposição dos afastados; metas
que se elevam continuamente.
Multômetro
O assessor jurídico do SindBancários, Antônio Vicente
Martins, que participou das discussões sugeriu que Porto Alegre adotasse o
"Multômetro” instalado em Curitiba pelo Sindicato local, com a exibição pública
das multas impostas pela Justiça aos bancos que descumprem as normas legais em
relação aos trabalhadores.
Origens do sindicalismo
Mauro Salles, da diretoria do Sindicato de Porto Alegre, fez
um resumo das origens do sindicalismo, a partir das caixas de ajuda mútua.
Sobre o SindBancários, relatou que em 1993, quando entrou na direção da
entidade, só havia um setor de atendimento odontológico. "Das questões
individuais que apareciam, fomos para o coletivo. O trabalhador adoecido é uma
prova concreta do que o capitalismo produz”, afirmou. "Antes o problema mais
comum era a LER/DORT. O advento do neoliberalismo provocou o surgimento de mais
casos de adoecimento mental”. O diretor também lembrou que o Judiciário, assim
como o MP, não costumam favorecer os trabalhadores em seus julgamentos, "com
honrosas exceções”. Para concluir, sugeriu a realização de um grande encontro
de massas para debater a saúde do trabalhador.
Software Fiel Saúde
A assessora de Saúde do SindBancários, Jaceia Netz,
apresentou as funcionárias e técnicas do setor e fez um apanhado geral do
trabalho desenvolvido no Sindicato. Ela detalhou o software "Fiel Saúde”,
desenvolvido em código aberto para a entidade, que sistematiza todo o processo,
desde o acolhimento do bancário em situação de adoecimento até providências
médicas e jurídicas tomadas. Também informou que o programa de computador não
está concluído: "Estamos sempre aperfeiçoando”, disse.
A assistente social do Sindicato, Manuela Fonseca,
exemplificou o conteúdo do programa, que inclui fichas de atendimento, registro
da CAT (ou CATs) e outras informações, que depois é enviado ao INSS, com a
descrição da situação geradora do dano ou acidente de trabalho. "Nossos sistema
permite também acessar o CAT que seja emitido pelo banco”, acrescentou. "Com
isso, fica fácil comparar e ver que até 2011 eram mais comuns os casos de
LER/DORT e hoje é o sofrimento psíquico”, concluiu.
Ação Solidária
Sobre o Grupo de Ação Solidária (GAS), que opera a partir do
SindBancários, Jacéia Netz explicou que é uma reunião semanal de
representantes, envolvendo entidades cutistas e não cutistas, para discutir
questões de saúde dos trabalhadores. A iniciativa, que provocou também o
interesses dos representantes dos bancários paranaenses e catarinenses,
discute, relata casos e propões estratégias de superação de problemas. "Fazemos
o acolhimento das pessoas em sofrimento, mas também produzimos conhecimento”,
resumiu Jacira. "Nos empoderamos com as informações, promovemos ações e
procuramos restabelecer a solidariedade entre os trabalhadores, inclusive entre
não bancários”, disse ainda. *Imprensa/SindBancários
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