"Temos realizações extraordinárias para
contar, formidáveis. Quem tem alguma ilusão percebe agora nos retrocessos
atuais, que se avançou pouco em relação aos problemas herdados de outros
governos. Questões importantes não foram resolvidas lá atrás, entre elas a
dissolução dos monopólios de comunicação, o que não é simples. Nenhum desses
congressos que tivemos nos últimos tempos, aprovaria coisa alguma pela
democratização da comunicação. Muitas razões levaram ao golpe, mas duas delas
foram estas questões mal resolvidas: não democratização da comunicação e a hegemonia
do capital financeiro.
O painelista citou as políticas
sociais, que colocaram a Caixa na posição de segundo banco mais importante do
país. "Isso dói na cabeça e no bolso dos bancos privados. E a Caixa chegou lá
em cima, não às custas de juros altos, mas através das políticas sociais de
distribuição de renda, como o Bolsa Família, que beneficiou 60 milhões de
pessoas no Brasil”.
Falta de representatividade no Congresso
"O fator determinante que levou à
queda da Dilma e está levando aos retrocessos brutais é a enorme maioria que a
direita constituiu no Congresso Nacional. Temos um Congresso com enorme lobby
do agronegócio e três representantes dos trabalhadores rurais. Temos um enorme
lobby da educação privada e cadê a bancada para defender a educação pública?
Temos um enorme lobby da saúde privada e cadê a bancada para defender o SUS e o
Mais Médicos? Mas não é só isso. Cadê as bancadas dos metalúrgicos, dos
bancários, dos jornalistas, das mulheres, dos jovens e dos negros?
Para Emir, para democratizar o estado
é preciso compreender a importância do Congresso Nacional. "As eleições
mostraram o isolamento da esquerda para o conjunto da sociedade brasileira. O
movimento sindical, por exemplo, representa muito menos do que deveria
representar. A massa popular beneficiada pelas políticas sociais não está
organizada. A esquerda brasileira não foi capaz de aproveitar a maioria
nacional progressista para dar organização a essa gente, às gerações novas,
para que elas pudessem se expressar. Temos movimentos novos, mas ainda há pouca
representação política e formação lideranças”, avalia.
Manipulações
da Mídia x Poder
Emir Sader também
denunciou as manipulações da mídia não só ao longo do processo de impeachment
da presidenta Dilma, mas nas eleições de outubro. Segundo ele, os meios de
comunicação conservadores fizeram movimentos estratégicos para reiterar o
discurso de falência do estado e incompetência na gestão do dinheiro público. "Estamos
perdendo essa luta. Claro que nós temos instrumentos pequenos. Nós, na Internet
fazemos guerrilha. Mas quem entende de estratégia militar sabe que o exército
regular é o deles. Eles é que definem a agenda nacional e nós corremos atrás
para desmentir, para disputar, mas não temos capacidade de enfrentar mesmo nos
juntando porque não temos rádio e televisão. Está tudo na mão deles”.
Democratização
da Comunicação
"Vamos ser
claros. Se hoje nós tivéssemos uma democratização dos meios de comunicação e um
terço das concessões fossem para a comunidade, nós teríamos conteúdo para
convencer a massa da população? Ainda não estamos com os argumentos prontos para recuperar a ideia
de Estado. Essa política que está aí não serve. Tem que ser outra política,
voltada para a reforma do Estado, com representação controlada pela cidadania”,
enfatizou.
*Comunicação/Fetrafi-RS
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