Até o momento foi confirmado o assassinato de
oito moradores do assentamento Taquaruçu do Norte, localizado em Colniza, no
Mato Grosso. A matança ocorreu após pessoas encapuzadas invadirem o
terreno e torturarem o grupo de sem-terra na última sexta-feira, dia 21. Já o
caso de Silvino Gouveia ocorreu no domingo, dia 23, quando o militante foi
assassinado com 10 tiros no Assentamento Liberdade, em Periquito, Minas Gerais.
Os casos ocorreram na mesma semana do aniversário de 21 anos
do histórico massacre de Eldorado dos Carajás, e se somaram ao alto número de
homicídios de militantes em conflitos por terras no país. De acordo com o
relatório anual divulgado pela CPT no dia 17 de abril, os assassinatos no campo cresceram 22% entre 2015 e 2016.
Canuto destaca que em 2017 o número de assassinatos de pessoas no campo já é
alarmante:
"O número de 61 assassinatos que a CPT registrou em 2016 é o
maior número de assassinato de pessoas do campo desde 2003. Então, houve um
avanço considerável. E agora com este assassinato do militante do MST em Minas
Gerais, neste ano já são 20 pessoas assassinadas”.
Você considera que há um simbolismo no fato de essa chacina
ter acontecido bem na semana do aniversário do massacre de Eldorado dos
Carajás?
Significa que de fato a impunidade no campo é tanta que o
assassinato pode acontecer porque se sabe que as pessoas envolvidas nisso não
serão punidas, isto é um elemento histórico desde sempre. São pouquíssimos
casos que vão a julgamento e quando vão, são poucos os que são condenados.
Possivelmente isso vai se repetir, o pessoal vai dizer que não foi possível
identificar, prender, apesar de a polícia já ter identificado um. Acho que vai
ser muito complicado primeiro identificar, encontrar e punir. O caso de Colniza
é uma situação que se arrasta desde 2004. Em 2007, houve ataques dos
fazendeiros com sequestro e torturas e neste ano pelo menos três lavradores
foram assassinados. Então a chacina está dentro desse quadro de violência que
se arrasta.
Podemos notar algum tipo de relação entre o Congresso
conservador e do governo Temer e esse aumento nos assassinatos em conflitos do
campo?
A gente tem visto nestes últimos meses, desde o momento que
começou a discussão de impeachment, a bancada ruralista e todo o mundo
ruralista adquiriu uma força impressionante e se sentem os donos do pedaço. Se
o governo não resolver eles resolvem por conta própria porque tem todo o
respaldo dessa crise política e desse momento que a gente vive. Eles se sentem
seguros para praticar tudo o que quiserem, porque tem o poder executivo, o
legislativo e muitas vezes o próprio judiciário ao seu lado. *Brasil de Fato |