Para o senador, dentro do quadro
geral que culmina com o golpe, falta o instrumento básico de reação, que é o
projeto nacional. Para Requião, os governos democráticos e populares promoveram
momentos de sensibilidade e ascensão social, mas falharam na definição de um planejamento
global para inserção definitiva do país no rumo do desenvolvimento.
"Mais do que falar sobre o quê está
acontecendo, mais do que uma análise de conjuntura, mais do que espinafrar o
governo interino por causa dos retrocessos sociais e trabalhistas que patrocina
- ou por causa do entreguismo que o distingue - mais do que denunciar o golpe e
as tristes figuras que o protagonizam, eu quero convidá-los a dar um passo à
frente. O passo à frente é pensar, debater e formular um programa para o Brasil.
Seja qualquer qual for o desfecho do processo de impeachment, uma coisa é
certa: sem uma ideia clara do que queremos não vamos a lugar algum, mesmo que o
golpe seja derrotado e a presidenta Dilma volte ao Palácio do Planalto”,
analisou.
O senador destacou que o movimento
sindical, pressionado pela agenda de ataques aos direitos trabalhistas, tenta
se ocupar com os temas que imediatamente atingem os trabalhadores. "Se não
houver uma fusão entre a luta sindical em defesa da Consolidação das Leis do
Trabalho e dos direitos e garantias sociais, com a luta nacional por um projeto
de desenvolvimento, de nada servirão os nossos esforços”, afirmou.
Requião salientou que no momento
atual se fortalece a mais perniciosa das associações: o conluio entre os
rentistas, a burguesia agroexportadora e os interesses geopolíticos do
capitalismo imperial. "Esta tríplice aliança, acorrenta o Brasil à dependência,
ao atraso e à pobreza. Há uma relação umbilical entre o desmonte do estado
social, que a Constituição de 1988 pretendeu estabelecer e o alinhamento do
governo interino ao neoliberalismo, hoje escorraçado do mundo inteiro. O
neoliberalismo faliu na Europa, a Espanha quebrou, a Grécia está em desgraça, a
Itália em dificuldade e Portugal falido. Esse modelo moribundo pede asilo no
Brasil e os políticos fisiológicos, os donos da banca, defensores do grande
capital, oferecem esse asilo em detrimento do trabalho e da população”.
Erros que se repetem
"As nossas seguidas derrotas ao longo
do século passado e que se reproduzem nesse, podem ser explicadas pela
dissociação das lutas reivindicatórias das lutas econômicas, por direitos
individuais e coletivos, da batalha pela construção do Brasil Nação. Não há
saída para defesa da CLT, da Previdência, do SUS, da educação pública, da
recomposição do salário mínimo, do emprego, do Pré-Sal, se não reinventarmos o
Brasil, construindo um projeto de desenvolvimento nacional, soberano,
democrático e acima de tudo popular”, propôs o senador.
Formação Histórica
Para Requião, o Brasil tem o maior povo do
mundo moderno. No entanto, a história do País registra um grande fracasso. "Este
nosso povo, essa imensa maioria não assumiu até hoje o controle da nação. Ao
longo da nossa existência fomos governados por uma elite, que nunca se
identificou com o nosso povo, que nunca se sentiu nacional e nunca se sentiu
brasileira. O desafio da nossa luta é desalojar do comando uma elite que não
tem mais nada a oferecer ao país senão a exploração e a manutenção dos seus
próprios privilégios”. Desafio Atual
O senador enfatizou que desde sua
origem, o País se organizou para servir ao mercado mundial e agora terá que se organizar
para servir a si mesmo. "O Brasil de poucos deverá ser o Brasil de todos. Se
formos incapazes de dar este salto, nossa existência como nação soberana e
organizada estará em perigo. Não há lugar na história para povos que abram mão
de comandar o seu próprio destino”, afirmou o senador da República. *Marisane Pereira - Mtb/RS9519 Comunicação/Fetrafi-RS Fotos: Nicholas Aguirre |