Movimento Sindical | 08/07/2019 | 15:07:34
Bancários e bancárias debatem desafios do mundo do trabalho e aprovam plataforma de lutas
Conferência Estadual aconteceu neste sábado, 6 de julho, em Porto Alegre
 
 
"O sindicato que conhecemos tem data para morrer”. Com essa frase, o diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socieconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, provocou a reflexão dos participantes da 21ª Conferência Estadual dos Bancários e das Bancárias, que ocorreu neste sábado, 6 de julho, na sede da Fetrafi-RS, em Porto Alegre.
O painel da manhã foi dividido em duas partes: conjuntura econômica, apresentada por Lúcio; e Reforma da Previdência no Congresso Nacional, tema sobre o qual discorreu o deputado federal Henrique Fontana. De acordo com o diretor de Comunicação da Fetrafi-RS, Juberlei Bacelo, que abriu a Conferência, os dois temas justificaram a realização do encontro, embora não haja Convenção Coletiva este ano, pois o acordo da categoria está vigente até 31 de agosto de 2020. "Temos um conjunto de ataques aos trabalhadores e aos bancos, ameaçando nossos empregos, que nos faz pensar que não há como não ter luta”, destacou.

A morte dos sindicatos anunciada pelo diretor técnico do Dieese tem relação com os ataques às entidades no cenário federal. "O governo atual tem uma visão ideológica clara de que no Brasil todos os sindicatos devem ser eliminados”, afirmou. 

Entretanto, para Lúcio, o maior desafio dos sindicalistas é a chamada Revolução 4.0. "A ‘Bia’ do Bradesco é a expressão do que é o novo mundo do trabalho e o sindicato não está preparado para essa mudança. É preciso buscar os jovens, os trabalhadores reais que estão criando a Bia, pois esses meninos e meninas não estão no centro da entidade”, ressaltou, citando a atendente virtual do Bradesco para exemplificar o rápido avanço tecnológico do setor bancário.

Ou seja, segundo Lúcio, a revolução tecnológica transforma o mundo do trabalho. A cada ano, mais e mais bancários e bancárias perdem seus empregos a partir da implantação de máquinas e sistemas de atendimento virtual. Até mesmo o local de trabalho passa por essa transformação ao passo que o "home office” se torna mais comum. "A organização dessa agenda no local de trabalho precisa dar conta dessas mudanças. E dentro do banco não tem só bancários, mas diversos outros trabalhadores. Para resistir, o sindicato precisa representar esses trabalhadores que  estão no novo mundo do trabalho”, concluiu.

Sobre o que o futuro reserva para os aposentados, o deputado Henrique Fontana, que participa da Comissão Especial da Reforma da Previdência, onde o relatório da PEC 6/2019 foi aprovado na semana passada, destacou que a desigualdade social deve aumentar caso o projeto passe nos plenários da Câmara e do Senado. "Se essa reforma passar o desemprego e os problemas econômicos vão se agravar no país”, afirmou. 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou que quer votar a matéria essa semana. "A base do governo quer votar nesta terça, mas a posição da oposição, é de impedir a votação para que ela aconteça após o recesso (do Legislativo) e dê mais tempo da sociedade discutir o assunto”, ressaltou. 

Para o deputado, falta informação clara à população para demonstrar o quanto o projeto de Previdência do governo Bolsonaro e, em especial do ministro da Economia, Paulo Guedes, vai prejudicar milhões de trabalhadores. "Cerca de 700 mil homens por ano deixarão de se aposentar se mudarem as regras. Quem sabe o que vai acontecer, não pode ser a favor dessa reforma”, exemplificou.

Eventos nacionais

A Conferência Estadual contou com a participação de 286 delegados e delegadas de todo o estado. Destes, foram eleitos 39 (além de dois natos) para representarem o Rio Grande do Sul na Conferência Nacional, que ocorre dias 1º e 2 de agosto, em São Paulo. Para o encontro nacional do Banco do Brasil, o estado levará 10 delegados (as) e um nato, da Comissão de Empregados; já para o Congresso Nacional dos Empregados da Caixa irão 22 gaúchos e gaúchas, sendo 16 da ativa e 6 aposentados, além de um nato, pela CEE/Caixa.
 

Plataforma de lutas

A Conferência ainda aprovou uma plataforma de lutas para o próximo período, na qual constam os seguintes itens:
  • intensificar a luta contra a reforma da Previdência, fortalecendo a coleta de assinaturas para o abaixo-assinado, aumentando a pressão nas bases eleitorais dos parlamentares e intensificando a mobilização nas centrais sindicais;
  • dar continuidade à luta em defesa dos bancos públicos e demais empresas estatais e da soberania nacional, fortalecendo e unificando as ações promovidas pelas entidades sindicais diretamente atingidas pelas políticas de privatizações;
  • defender o Banrisul como banco público, combatendo a venda de ações;
  • lutar pela revogação das resoluções CGPAR 23 e 25 que atacam planos de saúde e a previdência complementar das estatais;
  • lutar em defesa da jornada de trabalho dos bancários que vive sendo atacada pelos bancos, dando combate à MP 881, que está tramitando no Congresso Nacional.
Também foram aprovadas moções de defesa dos bancos públicos e de apoio ao Comitê de Combate à Megamineração no Rio Grande do Sul. Os documentos estarão disponíveis no site da Fetrafi-RS em breve. 

Encontros por bancos

Durante a tarde do dia 6 ocorreram os encontros por bancos, na sede da Fetrafi (bancos públicos) e no SindBancários Porto Alegre e Região (privados). Os banrisulenses optaram por fazer uma reunião estadual na qual debateram a necessidade de manutenção do banco como um bem público e de uma campanha para esclarecimento e defesa do banco junto à população.  O encontro nacional dos funcionários do Banrisul foi marcado para o dia 24 de agosto. 

Os encontros da Caixa e do Banco do Brasil também focaram na defesa dos bancos públicos, dos planos de saúde dos funcionários, da previdência pública e complementar e de melhores condições de trabalho.
Os funcionários dos bancos privados discutiram meios de defender os empregos, planos de carreira, cargos e salários, saúde e segurança bancária, entre outros temas específicos de cada banco: Bradesco, Itaú Unibanco e Santander.