Saúde do Trabalhador | 03/05/2016 | 10:05:28
Ato do FSST debate adoecimento e gestões que pioram a saúde
Movimento sindical intesifica ações em defesa dos trabalhadores
 
 

O Fórum Sindical de Saúde do Trabalhador do RS realizou, na quinta-feira, 28/4, o ato em memória às vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. O 28 de abril, lembrado internacionalmente, foi definido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em memória dos 78 mineiros vítimas de uma explosão numa mina no estado norte-americano da Virgínia, em 1969.


A atividade aconteceu no Auditório da Casa dos Bancários, em Porto Alegre, e contou com palestrantes que levaram assuntos sobre o Sistema Único de Saúde, a atuação do Ministério do Trabalho e Emprego no ambiente de trabalho, saúde mental e adoecimento, bem como, o debate sobre a não reforma da Previdência Social.

Para o coordenador do FSST, Alfredo Gonçalves, o movimento sindical tem que estar cada vez mais unido para enfrentar os embates que a classe trabalhadora terá que enfrentar, por isso a relevância da realização do seminário para a discussão e formação de propostas para o tema.

Na mesa de abertura, o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, destacou a importância da realização do evento e ressaltou que é motivo de orgulho ter um setor do movimento sindical que dá muita importância para este tema. "O FSST faz a reflexão e tenta abrir os caminhos do que tem que ser consertado nessa área, porque o mundo do trabalho é uma violência permanente e não tem fim”, comentou.

O 28 de abril é marcado por diversas manifestações, ações e debates realizados em todo país pelo movimento sindical a fim de colocar em pauta as problemáticas da saúde do trabalhador e, também, da conjuntura atual do Brasil.

Segundo Guiomar Vidor, presidente da CTB-RS, a situação atual dos trabalhadores precisa ser assumida pelas entidades sindicais, isso porque os acidentes de trabalho, praticamente, matam mais que doenças em todo o mundo.

A abertura do ato contou, também, com a presença da diretora da Divisão de Vigilância em Saúde do Trabalhador, Loiva Schardosim, que abordou o tema das subnotificações dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, mas que essas informações são fundamentais para que se conheça a realidade e para o planejamento das ações.

Na parte da manhã, os painéis foram destinados à mesa que tratava da atuação do Ministério do Trabalho e Emprego no ambiente de trabalho com o auditor-fiscal, Luiz Alfredo Scienza, e sobre o SUS: acesso e acolhimento com o vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, Cláudio Augustin.

Para Scienza, há pouco a comemorar e muito a se preocupar. "Meu dia a dia está onde o trabalho está, e tem muita gente se acidentando” destaca. As pessoas se acidentam de modo tradicional, mas tem uma mudança de perfil de adoecimento e morbidade, cada vez mais se tornando visível, destacando a forma como o trabalho está organizado de forma precarizada e terceirizada.

Abordando o tema do SUS, o presidente do Conselho Estadual de Saúde, Claudio Augustin, lembrou as questões relevantes e que muitas vezes são esquecidas no dia a dia das entidades sindicais. Uma das questões fundamentais desse processo foi entender como está a saúde do trabalhador em cada atividade laboral. "Nós temos sete conferências e quase todas elas seguiram essa linha, como estava a saúde do trabalho do seu ramo produtivo. Todo mundo está adoecendo no seu local de trabalho e todos se enxergavam uns nos outros. Os ramos começaram a dialogar entre si” explicou.

Mesa de saúde mental

No painel "Quando o trabalho produz o adoecimento”, estavam a psicóloga da Secretaria Estadual da Saúde, Claudia Magnus, a psicóloga Inaiara Kersting e a assessora de saúde do trabalho do SindBancários, Jacéia Netz.

Os temas centrais foram o assédio moral, adoecimento mental e demais doenças que acometem o trabalhador. Segundo Jacéia, uma pesquisa realizada pelo SindBancários, das amostras estudadas, 48% dos trabalhadores usam medicação para ansiedade, 27% usam para dormir, moduladores de humor, uma série de medicações, 34% mais de uma medicação, 66% com concomitante uso de antidepressivo e ansiolítico e 40% atribui ao trabalho o uso de medicação.

As psicólogas Cláudia e Inaiara abordaram a relação de assédio moral, os adoecimentos e sofrimentos mentais causados no ambiente de trabalho. A explanação das características de cada problema, bem como os caminhos que o trabalhador deve procurar.

Segundo Claudia, as situações de humilhações, mesmo que não sejam com a frequência que caracteriza o assédio moral, não deixam de ser uma graves. São consideradas algum tipo de violência e podem causar dano psicológico ao trabalhador. Ela destaca a importância de se tratar os adoecimentos de forma plural, que os trabalhadores se ajudem, que de nada adianta um colega estar adoecido e os demais ficarem indiferentes, pois isso é um problema que pode atingir a todos. "Nós devemos apostar nas estratégias coletivas para lidar com tudo isso. Saúde é um conceito coletivo”, enfatiza Cláudia.

A questão da banalização foi destacada pela psicóloga Inaiara, ressaltando o silêncio que muitos trabalhadores acabam fazendo diante dos seus problemas. "Trazer à tona os problemas é assumir que eles existem, quando o trabalhador se acidenta no seu setor é fundamental ele demonstrar para os colegas que aquele local é condenável. O trabalhador precisa assumir que está vulnerável. Calar-se é uma forma de proteção, mas é preciso denunciar”, salienta a psicóloga.

Finalizando o dia com uma palestra enriquecedora e esclarecedora, o professor Denis Maracci, professor e diretor no Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp-SP), abordou o tema da Previdência Social. Ele explicou o porquê de não se fazer a reforma neste órgão.

*FSST-RS