O estudo em parceria com o Dieese, com base nos números do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho,
também chama a atenção para saldo negativo de postos de trabalho em
dezembro de 2016, que chegou a 9.028 e pode estar relacionado aos
desligamentos ocasionados pelo plano de reestruturação e de
aposentadorias incentivadas adotados pelo Banco do Brasil.
Os trabalhadores mais velhos e com mais tempo no emprego foram os
mais afetados. A análise por setor de atividade econômica mostra que os
bancos múltiplos, com carteira comercial, que incluem grandes
instituições como Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil foram os
principais responsáveis pelo saldo negativo. Juntos, cortaram 18.434
postos de trabalho (93% do total).
O presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, critica a falta
de responsabilidade social dos bancos com o emprego dos trabalhadores,
principalmente neste momento de instabilidade política, social e
econômica no país.
"No ano de 2015, abrimos negociações banco a banco para combater e
achar alternativas para a redução de postos de trabalho, uma vez que os
nossos sindicatos captaram uma ampliação do número de demissões. Os
bancos negaram estarem demitindo, mas foram desmentidos pela nossa
pesquisa conjunta com o Dieese. Cortaram quase dez mil empregos em plena
crise política que se transformava em uma crise econômica”, destaca
Roberto von der Osten, ao comentar, também, o grande corte de empregos
em todo o ano passado.
"Em 2016, a redução foi muito maior e agora os bancos admitem estar
se ajustando tanto à crise quanto ao novo cenário digital em que os
bancos querem operar. Sem dúvida, um dos grandes desafios do movimento
sindical é defender os empregos. Ao lado disto, lutar pela qualidade dos
empregos, já que direitos estão sendo ameaçados, e lutar contra a
flexibilização defendida pela elite empresarial brasileira como medida
geradora de emprego. Nesta balela os bancários não caem”, alerta o
presidente da Contraf-CUT.
Confira aqui os gráficos da pesquisa.
Números estaduais
Nenhum estado registrou saldo positivo no emprego bancário no
período. São Paulo foi o estado onde ocorreram mais cortes (-7.842
postos, 38% do total de postos fechados), seguido pelo Rio de Janeiro,
que fechou 2.373 postos, Minas Gerais, com 1.655 postos extintos e
Paraná, que fechou 1.441 postos.
Banco do Brasil
Do total dos desligamentos ocorridos nos bancos, metade foi sem justa
causa, perfazendo 20.566 desligamentos. Os desligamentos a pedido do
trabalhador somaram 16.961 e representaram 41,6% do total. O elevado
percentual de desligamentos a pedido deve estar relacionado à
implementação do plano de reestruturação do Banco do Brasil e de
incentivo à aposentadoria no banco. Números extremamente negativos para
categoria bancária, já que o BB não pretende repor as vagas.
"O Banco do Brasil realmente contribui para este número, considerando
que desde o momento em que anunciou a reestruturação, foram cortadas
9.400 vagas, empregos que não serão repostos. A estatística ficou em
2016, mas o grande problema está agora em 2017. Além de reduzir o número
de empregados, piora as condições de trabalho para quem ficou. O que
pode agravar adoecimentos e afastamentos por conta da sobrecarga de
trabalho”, afirma Wagner Nascimento, coordenador da Comissão de Empresa
dos Funcionários do BB.
"A justificativa do Banco do Brasil não difere de boa parte do
sistema financeiro, ao alegar que as novas tecnologias tendem a diminuir
o número de contratações. A argumentação não é correta, já que o BB já
vinha investimento em seu parque tecnológico nos últimos anos e mesmo
assim com uma política expansionista de mercado, construindo novas
agências e incorporando outros bancos, como Nossa Caixa e Banco
Patagônia, na Argentina”, lembra Carlos de Souza, secretário-geral da
Contraf-CUT.
"A questão real é uma mudança de governo. Um governo golpista, que
tem uma relação muito próxima, de compromisso com o sistema privado,
como o Itaú, grande concorrente do Banco do Brasil, nos últimos anos.
Sabemos que estes bancos financiaram o golpe e agora estão cobrando o
financiamento”, completa o dirigente sindical.
Desigualdade entre homens e mulheres
As 9.992 mulheres admitidas nos bancos, de janeiro a dezembro de 2016
receberam, em média, R$ 3.187,18. Esse valor correspondeu a 71,6% da
remuneração média dos 10.243 homens contratados no mesmo período, que
foi de R$ 4.450,40.
No momento do desligamento também se observou diferença na
remuneração entre homens e mulheres. As 19.927 mulheres que tiveram o
vínculo de emprego rompido nos bancos no período recebiam, em média, R$
5.902,45, enquanto os homens desligados dos bancos, recebiam R$
8.118,63.
Faixa Etária
Os bancários admitidos concentraram-se na faixa etária até 24 anos de
idade, com saldo positivo de emprego nessa faixa de 7.816 postos. Já os
desligamentos se concentraram nas faixas etárias superiores a 25 anos
e, especialmente, na de 50 a 64 anos, que registrou um saldo negativo de
14.763 postos de trabalho (37,2% do total de postos fechados).
Tempo no Emprego
Entre os 40.788 desligados, a maior parte tinha 120 meses ou mais
anos no emprego (12.988 cortes que correspondem a 31,9% do total).
Outros 9.647 desligados tinham entre 60 e 119,9 meses no emprego
(23,7%). Ou seja, observa-se que o corte dos postos nos bancos se deu
principalmente entre aqueles com maior tempo de casa, sendo compatível
com o fato de serem os trabalhadores mais velhos. *Contraf/CUT |